A ansiedade esta cada vez maior, com a tocada de ontem,
faltavam somente 120 km para Buenos Aires, saí do hotel as 7 horas, sem tomar
café, pois no hotel não tinha, as outras motos ainda estava paradas na frente
do hotel, ou seja fui o primeiro a sair.
Até tirei uma foto da moto do Marcos para não esquecer de
colocar na minha caixa de ferramentas a fita silver tape, um dos melhores
acessórios para qualquer moto, resolve quase tudo, vejam o que o vento fez na
moto dele.
Moto do Marcos |
O caminho até Buenos Aires foi tranquilo, mas quando chegou
virou um inferno, cheguei na hora em que todo mundo estava indo pro trabalho,
um congestionamento normal para qualquer capital, só que em Buenos Aires não
tem corredor como em São Paulo, tem alguns motociclistas que se arriscam em ir
pela esquerda entre os carros e um muro divisório, até tentei andar mas vi que
ia deixar as malas ou no muro ou nos carros, resolvi andar como se fosse carro
e o calor infernal.
Demorei a chegar no local do Buquebus e por questão de 10
minutos perdi o primeiro, o outro sairia somente as 12:45, não teve jeito a não
ser esperar, bom que se faz tudo no próprio local inclusive os tramites de
fronteira são feitas antes do embarque, quando se chega do outro lado é só
seguir viagem sem problemas.
O check in começa as 10:45, depois de liberado passa pela
Aduana, tipo do aeroporto com raio x e tudo mais, vai para uma sala de embarque
e momentos antes de embarcar, chamam as pessoas que estão de carro ou moto para
descer onde estão estacionados, lá tem um pessoal da policia argentina para
verificar a bagagem, mas nem olharam a da moto, colocaram um bilhete liberando e
entrei no Buquebus.
É diferente das balsas que pegamos no caminho, tem ar
condicionado, você não pode sair para fora para tirar fotos, fica dentro de uma
sala enorme, fotos só pelo vidro, mas tem um restaurante e um free shop, tem
até primeira classe com direito a embarque privativo e outras mordomias, fica
no andar de cima, mas tinham poucos usuários.
Uma hora de balsa e saio no Uruguai na cidade de Colonia,
vou colocar as coordenadas da casa da minha Irma em Acegua no GPS e já não
funcionou, coloquei então a cidade de Aceguá no Brasil, pois tem Acegua no lado
Uruguaio também, na realidade tem uma divisa seca, você não sabe se esta de um
lado ou outro.
O GPS aceitou, 586 km e pe na estrada, estava nublado e
pensei que com o ritmo que vinha nos últimos dias no máximo as 19:30 estaria na
casa da minha irmã e nos braços da dona Ana Beatriz.
Segui pelo GPS e depois de uns 200 km rodados o GPS me
coloca dentro de uma fazenda onde manda fazer um contorno e voltar 36 kms que
já havia percorrido.
Tinha comigo, dois mapas da Argentina, dois do Chile, um do
Brasil e nenhum do Uruguai.
Com a confusão do GPS, fui pelo sistema antigo, parei para
perguntar o melhor caminho para o Acegua, pude notar que eles não são de viajar
muito e conhecem muito pouco seu país e pior, toda vez que parava para
perguntar tinha no mínimo duas pessoas, quando perguntava pelo melhor caminho,
um mandava para um lado e outro para outro.
Na dúvida fui seguindo o GPS, começou a chover, peguei um
passarinho com o retrovisor, encheu minha luva e manga do casaco com sangue,
senti que não seria um bom dia.
Fiquei a 382 kms de Aceguá umas 3 vezes e daqui a pouco estava
a 415 novamente, quando peguei uma estrada de terra, andei uns 10 kms e voltei
para o posto onde tinha abastecido e perguntei novamente o melhor caminho,
novamente um mandava para um lado e outro para estrada que tinha pego que era a
de terra, resolvi ir por outro caminho e mais adiante vi um taxista vindo no
sentido contrário e fiz sinal para ele parar, parou e foi o primeiro que me deu
uma dica correta, disse que estava meio fora do caminho, mas que deveria seguir
5 km para frente entrar a direita numa estrada de terra de 30 kms que sairia no
asfalto e que aí pegasse sempre sentido de Melo, que de Melo a Aceguá teria 65
kms.
Peguei a estrada de terra, moleza para que fez 2000 kms de
ripio, cheguei no asfalto e começou a escurecer e o tempo fechou, la no
horizonte relâmpagos e mais relâmpagos, mas eu mesmo peguei só uma garoa, a
chuva forte ia na minha frente, pois a estrada estava molhada.
O ritmo já tinha diminuído bastante, antes a 140/150 depois
110/120 e já estava a 80/90.
Quando cheguei em Melo já era depois das 10 horas, estava
com fome, só tinha feito um lanche meia boca o dia todo, deu vontade de entrar
em Melo, jantar, dormir e seguir para Aceguá só no dia seguinte.
O coração falou mais alto que a razão e resolvi seguir
viagem, afinal faltavam somente 65 kms até Aceguá e depois mais uns 35 kms de
terra até a casa da minha irmã.
Cheguei em Aceguá, tive que acordar o pessoal da Aduana para
dar a saída do Uruguai, liguei para minha irmã avisando que daqui a pouco estaria
lá, pois estava faltando somente um pedaço de estrada de terra.
Quando entro na estrada de terra, senti algo estranho no
pneu dianteiro, parecia que estava furado, mas estranhei pois o painel não
acusava nada, parei e quando coloquei o pé no chão vi que tinha uma argila
escorregadia abaixo do meu pé, tinha chovido bastante e a terra virou um sabão,
até pensei em não seguir adiante, mas pensei comigo novamente: "estou
rodando a mais de 12.000 kms, não vou me entregar por causa de 35 kms".
Segui adiante e daqui a pouco um escorregão, comecei a
lembrar da conversa que tinha tido com o Marcos no dia anterior, onde ele falou
que o problema da terra é quando chove e a moto fica praticamente ingovernável,
ainda mais com quase 400 kgs, lembrei também da minha posição de não andar a
noite, era o segundo dia que estava quebrando esta regra, outra coisa que me
veio a cabeça é que os acidentes geralmente se dão a menos de 40 kms do
destino.
Daqui a pouco pareceu que a estrada tinha dado uma
melhorada, não enxergava quase nada, pois a bolha dianteira estava
completamente suja, era uma escuridão só, enxergava mal e mal onde o farol
iluminava, quando acelerei um pouco mais, devia estar a uns 60 km por hora
quando senti um escorregão maior da roda dianteira e comecei a pular com a moto
pra lá e pra cá e de repente um escorregão maior da roda dianteira e CHÃO!
Foi um susto, em fração de segundos você está no chão,
deitado em cima da moto, a mala de tangue abriu e espalhou as coisas pela mata,
tentei levantar e aí notei que meu pé direito estava preso debaixo da mala, não
consegui me mexer, não sei como mas fiquei calmo, tentei tirar o pé mas não
conseguia, mexi os dedos do pé, não senti dor, vi que não tinha quebrado nada.
Lembrei que estava com o celular no bolso do casaco, peguei
e por incrível que pareça no meio do mato, longe de tudo e o celular estava
funcionando, mas sabia que na casa da minha irmã nem sempre funcionava, tentei
ligar para a Ana mas não atendeu, aí ficou sem sinal, daqui a pouco voltou,
liguei para minha irmã e depois de algum tempo atendeu, expliquei minha
situação e ela falou que já estavam vindo me socorrer.
Deitado em cima da moto, ainda tive tempo de ligar a câmera
do capacete para filmar minha situação, mas só saiu o farol da moto, pois o
resto estava um breu.
A perna começou a ficar dormente, aí comecei a ficar
preocupado, mas uns 40 minutos depois avistei a luz de um carro vindo lá longe,
voltei a ligar o farol da moto, pois tinha desligado com medo de acabar a
bateria e aí passariam reto sem me ver.
Quando pararam só vi o desespero da Ana, pois minha irmã não
tinha dito o que tinha acontecido, mas meu cunhado e minha irmã conseguiram
erguer um pouco a moto para que tirasse a perna debaixo da moto, depois de
tirado a perna um abraço bem apertado na Ana para acalma-la, peguei a máquina
para registrar o momento, pois o que tava feito tava feito, não adianta
reclamar.
Fotos tiradas, retiramos as malas da moto, colocamos no
carro do meu cunhado, erguemos a moto e puxamos para estrada, liguei, tudo
funcionando apesar da fumaça que saia pelo escapamento e fui bem devagar até
chegar na casa da minha irmã, quase cai umas duas vezes pelo caminho mas
cheguei inteiro.
Uma cerveja gelada, janta, muita conversa e dormir nos
braços da amada. Já nem lembrava como era bom!
No outro dia levantamos tarde, e tomamos um chimarrão
enquanto tirava o barro da moto.
A tarde fomos a Acegua no free shop e de noite uma bela
carne de ovelha e cama que amanhã é dia de estrada novamente, agora com a
patroa na garupa o cuidado tem que ser redobrado.
Bom dia Tony... caramba que susto hein ?? ainda bem que está bem !!! Desejo boa viagem de volta c/ a esposa... Qdo chegar em Sorocaba quero conversar pessoalmente com você... Estamos montando o roteiro para 2015, preciso de sua opinião... Abçs !!!
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ResponderExcluirOi Rubens, já estou em Sorocaba, me mande um e-mail: tonysor@hotmail.com
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