Ushuaia

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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

25 Dia - 27/01/2014 -San Miguel del Monte a Acegua, um dia para esquecer!


A ansiedade esta cada vez maior, com a tocada de ontem, faltavam somente 120 km para Buenos Aires, saí do hotel as 7 horas, sem tomar café, pois no hotel não tinha, as outras motos ainda estava paradas na frente do hotel, ou seja fui o primeiro a sair.

Até tirei uma foto da moto do Marcos para não esquecer de colocar na minha caixa de ferramentas a fita silver tape, um dos melhores acessórios para qualquer moto, resolve quase tudo, vejam o que o vento fez na moto dele.
Moto do Marcos

O caminho até Buenos Aires foi tranquilo, mas quando chegou virou um inferno, cheguei na hora em que todo mundo estava indo pro trabalho, um congestionamento normal para qualquer capital, só que em Buenos Aires não tem corredor como em São Paulo, tem alguns motociclistas que se arriscam em ir pela esquerda entre os carros e um muro divisório, até tentei andar mas vi que ia deixar as malas ou no muro ou nos carros, resolvi andar como se fosse carro e o calor infernal.

Demorei a chegar no local do Buquebus e por questão de 10 minutos perdi o primeiro, o outro sairia somente as 12:45, não teve jeito a não ser esperar, bom que se faz tudo no próprio local inclusive os tramites de fronteira são feitas antes do embarque, quando se chega do outro lado é só seguir viagem sem problemas.

O check in começa as 10:45, depois de liberado passa pela Aduana, tipo do aeroporto com raio x e tudo mais, vai para uma sala de embarque e momentos antes de embarcar, chamam as pessoas que estão de carro ou moto para descer onde estão estacionados, lá tem um pessoal da policia argentina para verificar a bagagem, mas nem olharam a da moto, colocaram um bilhete liberando e entrei no Buquebus.

É diferente das balsas que pegamos no caminho, tem ar condicionado, você não pode sair para fora para tirar fotos, fica dentro de uma sala enorme, fotos só pelo vidro, mas tem um restaurante e um free shop, tem até primeira classe com direito a embarque privativo e outras mordomias, fica no andar de cima, mas tinham poucos usuários.

Uma hora de balsa e saio no Uruguai na cidade de Colonia, vou colocar as coordenadas da casa da minha Irma em Acegua no GPS e já não funcionou, coloquei então a cidade de Aceguá no Brasil, pois tem Acegua no lado Uruguaio também, na realidade tem uma divisa seca, você não sabe se esta de um lado ou outro.

O GPS aceitou, 586 km e pe na estrada, estava nublado e pensei que com o ritmo que vinha nos últimos dias no máximo as 19:30 estaria na casa da minha irmã e nos braços da dona Ana Beatriz.

Segui pelo GPS e depois de uns 200 km rodados o GPS me coloca dentro de uma fazenda onde manda fazer um contorno e voltar 36 kms que já havia percorrido.

Tinha comigo, dois mapas da Argentina, dois do Chile, um do Brasil e nenhum do Uruguai.

Com a confusão do GPS, fui pelo sistema antigo, parei para perguntar o melhor caminho para o Acegua, pude notar que eles não são de viajar muito e conhecem muito pouco seu país e pior, toda vez que parava para perguntar tinha no mínimo duas pessoas, quando perguntava pelo melhor caminho, um mandava para um lado e outro para outro.

Na dúvida fui seguindo o GPS, começou a chover, peguei um passarinho com o retrovisor, encheu minha luva e manga do casaco com sangue, senti que não seria um bom dia.

Fiquei a 382 kms de Aceguá umas 3 vezes e daqui a pouco estava a 415 novamente, quando peguei uma estrada de terra, andei uns 10 kms e voltei para o posto onde tinha abastecido e perguntei novamente o melhor caminho, novamente um mandava para um lado e outro para estrada que tinha pego que era a de terra, resolvi ir por outro caminho e mais adiante vi um taxista vindo no sentido contrário e fiz sinal para ele parar, parou e foi o primeiro que me deu uma dica correta, disse que estava meio fora do caminho, mas que deveria seguir 5 km para frente entrar a direita numa estrada de terra de 30 kms que sairia no asfalto e que aí pegasse sempre sentido de Melo, que de Melo a Aceguá teria 65 kms.

Peguei a estrada de terra, moleza para que fez 2000 kms de ripio, cheguei no asfalto e começou a escurecer e o tempo fechou, la no horizonte relâmpagos e mais relâmpagos, mas eu mesmo peguei só uma garoa, a chuva forte ia na minha frente, pois a estrada estava molhada.

O ritmo já tinha diminuído bastante, antes a 140/150 depois 110/120 e já estava a 80/90.

Quando cheguei em Melo já era depois das 10 horas, estava com fome, só tinha feito um lanche meia boca o dia todo, deu vontade de entrar em Melo, jantar, dormir e seguir para Aceguá só no dia seguinte.

O coração falou mais alto que a razão e resolvi seguir viagem, afinal faltavam somente 65 kms até Aceguá e depois mais uns 35 kms de terra até a casa da minha irmã.

Cheguei em Aceguá, tive que acordar o pessoal da Aduana para dar a saída do Uruguai, liguei para minha irmã avisando que daqui a pouco estaria lá, pois estava faltando somente um pedaço de estrada de terra.

Quando entro na estrada de terra, senti algo estranho no pneu dianteiro, parecia que estava furado, mas estranhei pois o painel não acusava nada, parei e quando coloquei o pé no chão vi que tinha uma argila escorregadia abaixo do meu pé, tinha chovido bastante e a terra virou um sabão, até pensei em não seguir adiante, mas pensei comigo novamente: "estou rodando a mais de 12.000 kms, não vou me entregar por causa de 35 kms".

Segui adiante e daqui a pouco um escorregão, comecei a lembrar da conversa que tinha tido com o Marcos no dia anterior, onde ele falou que o problema da terra é quando chove e a moto fica praticamente ingovernável, ainda mais com quase 400 kgs, lembrei também da minha posição de não andar a noite, era o segundo dia que estava quebrando esta regra, outra coisa que me veio a cabeça é que os acidentes geralmente se dão a menos de 40 kms do destino.

Daqui a pouco pareceu que a estrada tinha dado uma melhorada, não enxergava quase nada, pois a bolha dianteira estava completamente suja, era uma escuridão só, enxergava mal e mal onde o farol iluminava, quando acelerei um pouco mais, devia estar a uns 60 km por hora quando senti um escorregão maior da roda dianteira e comecei a pular com a moto pra lá e pra cá e de repente um escorregão maior da roda dianteira e CHÃO!

Foi um susto, em fração de segundos você está no chão, deitado em cima da moto, a mala de tangue abriu e espalhou as coisas pela mata, tentei levantar e aí notei que meu pé direito estava preso debaixo da mala, não consegui me mexer, não sei como mas fiquei calmo, tentei tirar o pé mas não conseguia, mexi os dedos do pé, não senti dor, vi que não tinha quebrado nada.

Lembrei que estava com o celular no bolso do casaco, peguei e por incrível que pareça no meio do mato, longe de tudo e o celular estava funcionando, mas sabia que na casa da minha irmã nem sempre funcionava, tentei ligar para a Ana mas não atendeu, aí ficou sem sinal, daqui a pouco voltou, liguei para minha irmã e depois de algum tempo atendeu, expliquei minha situação e ela falou que já estavam vindo me socorrer.

Deitado em cima da moto, ainda tive tempo de ligar a câmera do capacete para filmar minha situação, mas só saiu o farol da moto, pois o resto estava um breu.

A perna começou a ficar dormente, aí comecei a ficar preocupado, mas uns 40 minutos depois avistei a luz de um carro vindo lá longe, voltei a ligar o farol da moto, pois tinha desligado com medo de acabar a bateria e aí passariam reto sem me ver.

Quando pararam só vi o desespero da Ana, pois minha irmã não tinha dito o que tinha acontecido, mas meu cunhado e minha irmã conseguiram erguer um pouco a moto para que tirasse a perna debaixo da moto, depois de tirado a perna um abraço bem apertado na Ana para acalma-la, peguei a máquina para registrar o momento, pois o que tava feito tava feito, não adianta reclamar.

Fotos tiradas, retiramos as malas da moto, colocamos no carro do meu cunhado, erguemos a moto e puxamos para estrada, liguei, tudo funcionando apesar da fumaça que saia pelo escapamento e fui bem devagar até chegar na casa da minha irmã, quase cai umas duas vezes pelo caminho mas cheguei inteiro.

Uma cerveja gelada, janta, muita conversa e dormir nos braços da amada. Já nem lembrava como era bom!

No outro dia levantamos tarde, e tomamos um chimarrão enquanto tirava o barro da moto.

A tarde fomos a Acegua no free shop e de noite uma bela carne de ovelha e cama que amanhã é dia de estrada novamente, agora com a patroa na garupa o cuidado tem que ser redobrado.




















24 Dia - 26/01/2014 Puerto Madryn a San Miguel del Monte


Novamente fomos para estrada cedo, saímos antes das 8 horas e estrada novamente , o trato era andar até cansar, mas a estrada ajudava, praticamente só reta e com pouco vento.

Como disse o Marcos, viramos o Cavalo pra porteira e agora não tinha mais jeito, a ruta continua a mesma, parávamos somente para abastecer e comer algum lanche.

Nessa tocada forte o Marcos acabou ficando sem combustível, paramos e acabamos utilizando a gasolina reseva, acabamos pegando meu tanque, pois estava mais fácil de tirar o do Marcos estava muito amarrado, colocou o combustível na moto, 9 litros e estrada novamente, no primeiro posto abastecemos e o Marcos repôs o combustível do tanque reserva.

A viagem estava rendendo, num outro posto que paramos encontramos mais dois motociclistas, estavam indo em direção a Buenos Aires, pois um deles tinha que pegar um avião para São Paulo, pois estava com um problema de fiscalização na empresa dele, deixaria a moto em Buenos Aires e voltaria para buscar quando a fiscalização tivesse terminado, ele andava numa GS 800 e o amigo dele numa GS 1200.

Dali para frente foram juntos com a gente, até resolvermos parar, o Marcos como sempre ia puxando na frente e como sabia da minha ansiedade em voltar logo, rodou até tarde e acabamos batendo outro recorde, rodamos num só dia 1370 km.

Fomos parar na cidade de San Miguel del Monte, nova dificuldade em achar hotel, vai pra lá vem pra cá e ficamos os quatro no mesmo hotel, conversamos um pouco eu e o Marcos acabamos pedindo uma pizza e comemos no hotel mesmo. Depois de mais conversa, estava na hora da despedida uma parceria que se formou na estrada estava terminando nela também, no outro dia levantaria mais cedo para tentar pegar o primeiro Buquebus para Colonia no Uruguai e o Marcos seguiria em direção a Foz do Iguaçu.

Despedidas feitas e um compromisso de nos encontrarmos em São Paulo para apresentarmos as esposas e relembrar as histórias da viagem.

Marcos, valeu pela companhia, a viagem não seria a mesma se não tivéssemos nos unidos no caminho, agradeço a você o Tadeu e o Jairo, valeu e valeu muito.


 

 

 

 

23 Dia - 25/01/2014 - Rio Gallegos a Puerto Madryn


Saímos de Rio Gallegos as 7:00 horas, pela programação inicial da viagem a próxima parada seria Comodoro Rivadavia a 780 kms, mas no dia anterior fiquei sabendo que a Ana (minha esposa) chegaria a Acegua no Rio Grande do Sul, na casa da minha irmã, onde me esperaria e de lá voltaria comigo para Sorocaba.

Como o vento diminuiu muito em relação ao dia anterior, a viagem rendeu, o Marcos anda forte e eu ia na cola dele, como ele sabia que queria chegar logo em Buenos Aires para pegar o Baquebus, rumo ao Uruguai, tocamos o dia todo e rodamos 1270 kms indo parar em Puerto Madryn. Meu novo recorde pessoal em km num só dia e o do Marcos também.

Puerto Madryn é uma cidade turística, na beira do mar e como tal estava completamente lotada, tivemos novamente uma peregrinação até acharmos um hotel, mas achamos, nos instalamos e estávamos decidindo onde jantar, quando recebi um whatsapp do Pigossi, meu amigo que esta indo pro Ushuaia com seu filho, tínhamos a previsão de nos encontrarmos de passagem pela estrada no dia seguinte, e pararíamos para conversar um pouco. Por coincidência ele falou que estavam em Puerto Madryn, combinamos de jantar juntos os quatro.

Nos encontramos na frente do hotel dele, fomos procurar uns restaurantes que nos indicaram mas estavam todos lotados com fila de espera de mais de hora, resolvemos voltar para o hotel deles e jantamos lá mesmo.

O papo não poderia ser outro, moto mais moto mais viagens e roteiros e etc. Papo muito bom expectativa deles em chegar no Ushuaia, pegar o rípio e tudo mais, vão fazer um roteiro muito bacana na volta, a ida vai ser um pouco chata pois é pela ruta 3, na qual estamos voltando.

Foi muito bom o jantar, nada como encontrar amigos pelo caminho, ainda mais sabendo as coisas boas que vão encontrar pela frente ainda mais numa viagem de pai e filho, não poderia ser melhor, despedidas feitas, voltamos para nosso hotel e dormir que amanha tem mais estrada pela frente e a ansiedade em rever a esposa aumentando.
No entusiasmo da conversa, esqueci de tirar uma foto para registrar o encontro.

Que o Pigossi e o filho dele tenham uma excelente viagem e nós um excelente retorno.






 




 











 

22 Dia - 24/01/2014 Ushuaia a Rio Gallegos


Hoje inicia a parte chata da viagem, que é a volta, quando fiz a programação da viagem, utilizei um pouco da experiência adquirida na viagem pro Atacama em janeiro de 2013, notei que a viagem foi muito boa até alcançarmos o objetivo que era chegar ao Atacama.

Uma vez alcançado o objetivo, parece que muda um chip na cabeça e o objetivo passa ser o retorno, você já não  se interessa mais nas paisagens ou nas atrações do caminho, somente no retorno, até pelo cansaço da viagem que vai acumulando.
A rota da volta é pegar a Ruta 3 do começo ao fim, no meu caso até Buenos Aires.

Saímos no horário programado, pegaríamos os últimos 140 km de rípio da viagem, um misto de alívio e já de saudades, imprimimos uma boa velocidade, tem dois caminhos para chegar na balsa, o Tadeu como tinha saído um pouco antes, pegou um caminho que pegou um pedaço maior de asfalto, nos voltamos pelo outro que era com uma distância um pouco maior de rípio.

Passamos por várias motos no caminho, todos indo em direção a balsa, inclusive um casal de alemães, cada um com sua moto, pegamos um vento lateral forte no caminho, chegamos na balsa todos meio de lado.

Quinze minutos depois de chegarmos, encostou a balsa, embarcamos todos e em meia hora estávamos do outro lado, e estrada novamente.

Nosso objetivo inicial era dormir em General Gallegos, mas o Tadeu e o Jairo informaram que gostariam de rodar mais, resolvemos tocar até General Gallegos e lá decidir o que fazer.

Foi um trajeto difícil, cansativo, pois foi um vento lateral muito forte, parecia que ia arrancar o capacete, dava impressão que a qualquer momento a moto ia sumir debaixo da gente.
Fotos só na parada da balsa, pois com o vento não tinha chance de parada para foto, pois poderia derrubar a moto e outra, não tem nada interessante para fotografar, é uma reta interminável.

Chegamos em Rio Gallegos por volta das 17 horas, eu já estava muito cansado e o Marcos também, nós resolvemos ficar e dormir os outros dois resolveram tocar adiante, ou seja, desfez-se o quarteto que se juntou casualmente no caminho, mudaram as duplas, fiquei eu o Marcos e o Jairo e o Tadeu seguiram viagem, despedidas feitas e a certeza que em alguma viagem nossos destinos se cruzarão novamente.

Eu e o Marcos nos instalamos num hotel, fomos jantar torcendo para que o vento no dia seguinte estivesse mais calmo.